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A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário nasce num contexto histórico que, em grande parte, constitui a causa que preside à sua fundação. Um movimento operário em ascensão, num tempo marcado pela luta contra a monarquia, em que republicanos e socialistas obtêm o apoio significativo das classes laboriosas e cujos ideais não só encontram eco junto destas como as mobilizam para a transformação e a mudança. Em Portugal, a indústria tabaqueira é, no terceiro quartel do século XIX e segundo o historiador Armando de Castro, aquela que gera o maior volume de negócios. Geradora de lucros volumosos, a indústria dos tabacos despertava o interesse de investidores e, em pouco mais de uma década, o crescimento industrial acelerado dá origem a quase uma vintena de fábricas que empregam perto de cinco mil operários, na sua grande maioria tarefeiros e jornaleiros. Ao aumento da produção não está porém associado o aumento do consumo e, em 1879, uma dura crise atinge a indústria tabaqueira, originando um forte desemprego e agravando as já difíceis condições de vida dos operários da manufatura do tabaco. Sucedem-se as greves e as manifestações, das quais os jornais da época vão dando conta, embora quase sempre, na perspetiva patronal. Seria, aliás, a recusa de um título de então em publicar uma notícia sobre as condições de vida dos operários tabaqueiros que estaria na origem da criação do jornal A Voz do Operário. Custódio Gomes, operário tabaqueiro, indignado com a recusa de publicação da referida notícia, segundo a tradição, teria afirmado que “soubesse eu escrever que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos um jornal. Bem ou mal, o que lá se disser é o que é verdade. Amanhã reúne a nossa Associação, e hei-de propor que se publique um periódico, que nos defenda a todos, e mesmo aos companheiros de outras classes”. |
A Voz do Operário hoje
Nos dias que correm, A Voz do Operario mantém diversos tipos de atividades disponíveis, servindo não só os seus cerca de 5.000 sócios, como a população da zona da Área Metropolitana de Lisboa em que está inserida. Ao todo, frequentam os Espaços Educativos de A Voz do Operário - Graça (sede), Ajuda, Restelo, Baixa da Banheira, Lavradio e Laranjeiro - mais de 1.000 crianças e jovens, desde a creche ao 6.º ano de escolaridade. A actividade cultural e associativa estende-se às mais diversas áreas, desde o desporto, à música e ao cinema, passando pelos debates, exposições, sem esquecer a Marcha Infantil e a participação da Instituição em diversas iniciativas com destaque para as comemorações do 25 de Abril e 1.º de Maio. As respostas de ação social têm vindo a crescer, fruto das políticas neoliberais prosseguidas desde a década de 80 do século passado, e muitos utentes encontram na Instituição o apoio necessário para satisfazer necessidades básicas, cujas baixas pensões e reformas e ausência de subsídios de desemprego e de inserção social não conseguem suportar. Após comemorar 133 anos, A Voz do Operário está a desenvolver novos projetos, como a ampliação dos espaços para aumentar e melhorar a oferta dos serviços de creche e jardim-de-infância, a remodelação da Galeria João Hogan, a revitalização da Biblioteca Social, a recuperação de património por forma a rendibilizá-lo e a proporcionar novos serviços. Uma parceria entre o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e A Voz do Operário permitiu digitalizar diversos documentos relativos à história da Instituição, os quais podem ser consultados aqui. Consultar os estatutos. |